quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O Homem e a Síndrome do Pânico


O texto abaixo reflete bem o que acontece com o sexo masculino diante de um problema como a Síndrome do Pânico. Vale a pena a leitura. 
Homens: esqueçam o preconceito e essa ideia machista de que tudo não passa de "frescura". Procurem ajuda, cuidem-se! 
A família e aqueles que realmente gostam de vocês vão agradecer! :)


"Era difícil para ele entender, como engenheiro, que ele tinha pânico, pois não conseguia entender do que ele tinha medo. Só sabia que, de repente, seu coração disparava, começava a suar e uma grande sensação de desorientação tomava conta dele. Quando acontecia no trabalho, ele fechava a cara e se dirigia ao seu escritório. Só saía de lá um bom tempo depois. Lá dentro, tomava medicação indicada por seu psiquiatra e ligava para ele e ligava para sua esposa. Na empresa, surgiu a lenda de que nestas horas que ele se fechava era para pensar e meditar e que ao sair da sua caverna traria uma ideia genial.

Seus subalternos mais imediatos acreditavam que aquele comportamento estranho provinha da sua peculiar inteligência e, como a firma ia de vento em popa e os salários eram bastante bons, ninguém comentava mais nada. Menos um, que já tivera um filho com Síndrome de pânico, mas tinha medo de comentar qualquer coisa e arriscar o emprego.
Problemas de saúde mental ainda são cercados de mistério, preconceito e culpas.

Apesar do sofrimento, ele não mantinha o tratamento como devia. Seu psiquiatra depois de longos e insistentes pedidos fez com que ele fosse ao psicólogo também. Seu psiquiatra comentou com ele até a exaustão que a medicação em conjunção com a psicoterapia era o método mais eficaz e rápido de tratar a síndrome do pânico. Depois de muita teimosia, ele telefonou para o psicólogo que o recebeu em seu consultório.

No entanto, aconteceu o mesmo que já tinha acontecido com os atendimentos que o psiquiatra fazia com ele. Na verdade, ele era um paciente rebelde.
Faltava muito às sessões de psicoterapia, da mesma forma que não tomava a medicação conforme a recomendação do psiquiatra. Logo que se sentia um pouco mais seguro, parava com a medicação ou diminuía a dosagem do remédio, de acordo com o que ele achasse naquele momento.

O psicólogo, que tinha bastante experiência com pacientes com síndrome de pânico, sabia que às vezes era muito importante esperar alguma mudança na vida do paciente para que finalmente ele se engajasse no tratamento.
O paciente encarava as crises dele como um mal necessário, quase como um pagamento pelo sucesso que ele vinha tendo. Na verdade, era como um freio ao seu ímpeto empreendedor. Por outro lado, ele gostava que sua esposa cuidasse dele. Apesar de todo o sofrimento que o acometia, ela estava sempre ao lado dele. Não reclamava e mesmo quando ficavam longos meses sem ter relações sexuais, ela não expressava nenhuma cobrança. Apenas esperava ele “melhorar”. Era como ser mulher de uma pessoa especial. Ele gostava de ser uma pessoa especial.

Anos se passaram e o casamento era estável nos moldes que eles assim o inventaram. Os filhos vieram...
Aquela esposa que de alguma forma para ele era quase perfeita, personificação dos cuidados que ele nunca teve, passa a ser a personificação de uma angústia de abandono.
Ele amava os filhos, quis tê-los, mas agora parecia que tudo tinha mudado. O seu mundo, que ele equilibrava com refinado cuidado entre a doença, o sucesso e a atenção de sua esposa, começou a desmoronar. Começou a se isolar mais a cada dia e a ficar mais agressivo e áspero. O casamento entra em crise e a esposa procura a ajuda de um psicoterapeuta.

O movimento da esposa de se diferenciar da história do seu marido e encontrar um dos ganchos que uniam o passado de um ao outro teve uma repercussão positiva sobre seu marido. Através da ajuda do olhar do psicoterapeuta sobre a história construída por ela de sua família, percebeu que de alguma forma o apoio incondicional que sua mãe dedicava a seu pai, jogador compulsivo e que de forma geral fazia a família penar vergonhas e dívidas, não era muito diferente em essência do que ela fazia em relação ao seu marido.

Durante anos se orgulhara do sucesso de seu marido e de como ela o ajudava e que isso era obviamente muito diferente da penúria e das brigas que aconteciam em sua casa de origem quando a situação se tornava insustentável.

Ele...
Ele procurava ser alguém, para ser amado por alguém. Pensava na frase que sua mãe sempre falava sobre seu pai e que ele ouvia triste e atônito deitado em sua cama. “Ela queria um homem de verdade que a pudesse sustentar como ela merecia, não um banana que se escondia atrás de algo chamado depressão, que ela achava ser vagabundagem mesmo”.

Durantes anos, ele esperou a separação dos pais.
Só havia as brigas e um dia o pai morreu. O médico disse que tinha sido um A.V.C. O filho achou que ele tinha morrido de tristeza. Dessa tal de depressão. Ele sabia, em seu íntimo que um dia um A.V.C. o acometeria. Nenhum médico deste mundo conseguiu tirar isso da cabeça dele. Na verdade, ele esperava o desastre e a solidão.

De alguma forma, ele precisava entender que muito do que sentia era uma mistura da herança da depressão de seu pai, das tensões do dia a dia e da certeza que ele tinha de sua derrocada como expressão de seus sentimentos assumidos como um legado de dor de geração em geração.
Ser uma pessoa especial de certa forma durante muito tempo lhe supriu com um afeto especial de sua esposa, mas agora ele vivia a dor de ver o amor desaparecer dos olhos dela. Ele era agora apenas um provedor e um provedor com problemas. Sua esposa agora era só mãe de seus filhos e sua solidão aumentava dia a dia.

O momento esperado pelo psicoterapeuta tinha chegado. A crise o inspirou a começar o tratamento de verdade. Durante anos ele manteve o vínculo com o psicoterapeuta, mas parecia que estava esperando o momento certo chegar. A paciência do profissional com os atrasos e as faltas dele era uma forma de aceitação de que ele precisava ter.

Na verdade, após seis meses de tratamento, o pânico dele era algo que controlava bem e não mais vice e versa. Na verdade, mais do que controlar, ele não precisava mais do pânico e agora sentia que podia se livrar do eterno medo de ser o receptáculo das criticas que sua mãe fazia ao seu pai. E entendeu porque sempre se perguntou sobre por que seus pais se casaram e agora podia perguntar por que se casou e tentar reconstruir seu casamento."

Texto: Dr. Sergio Garbati - psicólogo

Um comentário:

  1. Muito legal seu artigo. Dê uma olhada nessa matéria sobre síndrome do pânico http://viverembrasilia.com.br/tenho-sindrome-do-panico-monica-e-o-seguinte/ . Se estiver interessado em parceria entre em contato, estamos interessados.

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