terça-feira, 28 de janeiro de 2014

O que são os Transtornos de Ansiedade? - Entrevista com o professor Sergio Machado

A partir de hoje, o Sem Transtorno conta com o auxílio luxuoso do professor e pesquisador Sergio Machado. Nesta primeira entrevista, ele nos explica o que são os transtornos de ansiedade, suas principais características, e afirma que estamos diante de um dos maiores problemas de saúde pública dos últimos anos.


ST - Professor Sergio, o que são os transtornos de ansiedade?
SM - Se não sentíssemos ansiedade, estaríamos vulneráveis aos perigos e ao desconhecido. A ansiedade é um sinal de alerta que nos faz ficarmos atentos a um perigo iminente e, assim, tomarmos as decisões corretas e necessárias frente a uma ameaça. Dessa forma, a ansiedade pode ser considerada um sentimento de grande utilidade para nós seres humanos. Ela faz parte de nosso desenvolvimento normal, das mudanças e das novas experiências que vivemos. A ansiedade é considerada um transtorno quando ela se dá em situações que não se justificam ou quando ela passa a interferir em nossas vidas devido à sua intensidade e duração constantes.

ST - E o que é a síndrome do pânico (ou transtorno do pânico)?
SM - O transtorno do pânico é um dos transtornos de ansiedade mais comuns, juntamente com a ansiedade social, o estresse pós-traumático e a ansiedade generalizada. O transtorno de pânico tem como manifestação central o ataque de pânico, que é um conjunto de manifestações de ansiedade com diversos sintomas físicos que dura em torno de 10 minutos. Normalmente, os primeiros ataques vêm inesperadamente, sem nenhum tipo de aviso. Após certo tempo, os ataques surgem por meio de um maior nível de ansiedade, ansiedade antecipatória ou podem ser desencadeados por algum tipo de situação específica.

ST - Quais são os sintomas mais comuns?
SM - Os sintomas mais comuns são taquicardia, dor torácica, hiperventilação (ritmo de respiração acelerado), medo de morrer, boca ressecada, sensação de sufocação, tonteiras, sudorese, tremores, sensação de perda do controle ou de "ficar louco".

ST - Por que o pânico atinge determinadas pessoas?
SM - Até o presente momento não se sabe a causa para o transtorno de pânico. A causa genética é um possível fator. Embora pesquisas como as de gêmeos idênticos indiquem que em 40% dos casos se um dos gêmeos tiver síndrome do pânico o outro também terá, em geral a síndrome ocorre sem que haja nenhum histórico familiar.


ST - Como os transtornos ansiosos têm afetado a nossa sociedade?
SM - Bom, os transtornos de ansiedade são os mais comuns dentre todos os transtornos psiquiátricos, com prevalência de 20%, e vem se tornando juntamente com a depressão um dos maiores problemas de saúde pública nos últimos anos.
ST - Existe uma faixa etária mais propensa às primeiras crises?

SM - O transtorno de pânico é mais comum em adolescentes e jovens adultos. Desses indivíduos, cerca de metade deles tem o primeiro ataque entre os 15 e os 30 anos. As mulheres são duas vezes mais propensas a desenvolverem o transtorno do pânico do que os homens.

ST - Qual deve ser o primeiro passo a ser tomado quando temos a primeira crise ansiosa?
SM - Quando acontecer de um indivíduo ter a primeira crise, e isso vale para todas, deve manter-se calmo e procurar atendimento médico com um psiquiatra.

ST - Qual seria o tratamento adequado?
SM - Depende sempre do nível do transtorno de ansiedade. O tratamento primário é o farmacológico, com medicamentos. De forma adicional, normalmente os pacientes fazem psicoterapia cognitivo-comportamental (TCC), atividade física, exposição por meio de realidade virtual, e atualmente alguns consultórios médicos vem realizando estimulação magnética transcraniana e estimulação transcraniana de corrente contínua.

ST - O senhor acredita em cura para a síndrome de pânico?
SM - Não. Não acredito em cura para transtornos psiquiátricos, como o pânico por exemplo. O que há são tratamentos que podem levar a remissão dos sintomas, ou seja, a redução no nível dos sintomas a um ponto que não incomode ou incapacite o indivíduo.


* Sergio Machado é neurocientista, Ph.D., graduado em Educação Física (UNESA), Mestrado e Doutorado pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ), Pós-Doutorado em Neurofilosofia pelo Instituto de Filosofia da Universidade Federal de Uberlândia (IFILO/UFU), é professor do Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria e Saúde Mental (PROPSAM) do IPUB/UFRJ e do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Atividade Física da Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO). É pesquisador na área de transtornos de humor e ansiedade.

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