quarta-feira, 24 de junho de 2015

Estresse, pânico e TCC

Frequentemente ouvimos que a TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental) é a psicoterapia mais indicada para tratamento de transtornos de ansiedade, como o pânico. Realmente, ela é a que apresenta mais resultados positivos.
Mas como é a TCC? Como é sua conduta? Isso só descobrimos, pra valer, nos consultórios. Mas li um artigo publicado por uma psicóloga na página Vya Estelar, do UOL, que achei bem esclarecedor e quero compartilhar com vocês.
O início do texto é bem didático, mas nunca é demais explicar o pânico por aqui!

Mais uma vez, peço que não se preocupem com o tempo de tratamento, se irão tomar remédio por três meses, seis meses, um ano ou pela vida toda.
Desejem sentir-se bem, plenos, felizes, produtivos...
Tanta gente toma remédio todos os dias para inúmeras doenças crônicas (diabetes, hipertensão...), por que não podemos tomar o nosso remédio também, caso isso seja necessário, para termos qualidade de vida?
Pensem nisso.

Um grande abraço a todos, saúde... e coragem.

Estresse é um dos principais causadores de síndrome do pânico 
(por Thaís Petroff)

Transtorno de pânico ou síndrome do pânico ou simplesmente pânico é uma doença que afeta globalmente a vida da pessoa que a desenvolveu.
Esse tipo de transtorno de ansiedade é caracterizado por ataques de pânico (por isso o nome), os quais podem ocorrer a qualquer momento, independente de onde a pessoa esteja (no mercado, dirigindo, na rua, em casa, etc...) e dura alguns minutos (para a pessoa parecem eternos).

Os sintomas mais característicos durante as crises são:

• Palpitações (o coração dispara);

• Dores no tórax e tensão muscular;

• Sensação de asfixia (dificuldade de respirar);

• Tontura, atordoamento, náusea;

• Calafrios ou ondas de calor, sudorese;

• Sensação de "estar sonhando" ou distorções de percepção da realidade;

• Terror: sensação de que algo inimaginavelmente horrível está prestes a acontecer e de que se está impotente para evitar tal acontecimento;

• Medo de morrer, de perder o autocontrole ou de ficar louco.

"O estresse é um dos principais causadores do transtorno de pânico, sendo responsável pela grande maioria das crises"

No transtorno de pânico há um desequilíbrio nos neurotransmissores noradrenalina e serotonina, o que deixa a pessoa com seu sistema de “alerta” (responsável por fazer com que o indivíduo reaja frente a uma ameaça) funcionando de uma maneira anormal.
Nesse caso, esse sistema é acionado sem que haja nenhum perigo real.
No entanto, não é o que a pessoa com pânico percebe e sente.

O estresse é um dos principais causadores do transtorno de pânico, sendo responsável pela grande maioria das crises.
As drogas tanto lícitas quanto ilícitas representam outro fator de risco.
Há estudos que averiguaram que há maior frequência em algumas famílias, sugerindo também a predisposição genética como uma das causas.

Para ilustrar, descreverei brevemente um caso clínico, com alteração do nome e alguns outros dados para preservar a privacidade do paciente.

Geraldo é um jovem executivo que veio ao meu consultório com queixa de transtorno do pânico. Ele havia sido diagnosticado por seu atual psiquiatra, com o qual estava em tratamento há pouco mais de um ano.
Conta-me logo em nossa primeira conversa que nunca havia feito psicoterapia. No entanto buscou a TCC por ter ouvido falar que era bastante eficaz para casos como o seu.
Disse também que há alguns meses o psiquiatra havia começado a diminuir a dosagem da medicação, pois ele havia apresentado melhora (estabilidade), mas logo teve de subir a dosagem rapidamente, uma vez que apresentou uma forte recaída.
Conta que ficou muito assustado e não gostaria de passar por aquilo novamente. Porém, não queria tomar a medicação pelo resto da vida.

Ao compreender o contexto de vida do paciente descubro que ele mudou de emprego e logo foi promovido. Isso aumentou em nível considerável suas responsabilidades e carga de trabalho; além de nesse período ter agendado a data de seu casamento. Esses dois fatos ocorreram um pouco antes de ele ter seu primeiro ataque de pânico.

Cabe aqui uma importante consideração a respeito do estresse.
Não são somente acontecimentos e situações ruins que desencadeiam o estresse. Muitos eventos positivos como viagem, mudança de residência ou localidade, mudança de emprego ou promoção, casamento, etc... são grandes causadores de estresse na maioria das pessoas. Tudo depende de como o envolvido percebe a situação e como reage a ela.
Neste caso, Geraldo estava bastante eufórico com todos os acontecimentos, de tal maneira que já percebia como eles estavam alterando em grande escala a organização de sua vida atual.

Dessa maneira, o trabalho terapêutico com Geraldo iniciou-se com, primeiramente, educá-lo sobre o modelo da TCC e em seguida fazê-lo compreender e perceber que suas reações (fisiológicas, emocionais e comportamentais) provinham em decorrência de como ele percebia (interpretava) o momento.
Foi-lhe explicado que, provavelmente, seu primeiro ataque de pânico ocorreu diante de alguma alteração fisiológica (exemplo: aceleração do coração), que ele percebeu como um fator de risco.
Outras situações como essa ocorreram e começaram a tornar-se mais frequentes e então ele começou a sentir-se cada vez pior e mais e mais assustado. Dessa maneira, o quadro de pânico estava instalado.

Após a compreensão do modelo cognitivo-comportamental do transtorno do pânico (explicação de como ele ocorre), passou-se a colocar o foco na interpretação que ele fazia (estar atento aos pensamentos automáticos) e a buscar outras explicações alternativas aos possíveis fenômenos físicos que eram percebidos. Exemplo: quando sua respiração acelerava poderia ser em função de:

• Estar tendo um ataque cardíaco (pensamento automático negativo ou PAN)

Ou

• Ter acelerado o passo;

• Ter feito mais força;

• Estar ansioso;

• Estar eufórico (muito alegre);

• Ter se assustado com algo.

Munido dessa técnica, foram propostos alguns experimentos comportamentais, em ordem de dificuldade, frente a uma lista que foi feita conjuntamente (paciente e terapeuta).
Um exemplo desses experimentos comportamentais foi ele voltar a frequentar a academia que havia parado por medo de passar mal. Ele quis fazer uma atividade aquática, pois estava acima do peso e temia machucar-se caso fizesse algum esporte de solo ou retornar à musculação. Escolheu a hidroginástica, pois achava menos puxada que a natação. Sua tarefa foi frequentar as aulas, aumentando cada vez mais o nível de permanência nelas e o ritmo do exercício. Para isso, precisou focar sua atenção nos PANs, pensar em possíveis alternativas para as sensações que tinha e confrontar esses pensamentos.

Quando iniciou essa prática ficou muito assustado, uma vez que assim que entrou na água e começou a se mexer sentiu seu coração acelerando e logo percebeu que pensou: “Estou tendo um ataque cardíaco!”
Lembrou-se então do trabalho psicoterapêutico e propôs outras explicações para esse evento e em pouco tempo sua ansiedade baixou, de maneira que, mesmo não sumindo por completo, fez-se possível de ser suportada.

Na TCC, esse tipo de experimento enquadra-se no que é chamado de exposição, ou técnicas de exposição. Refere-se a expor o paciente paulatinamente a situações que ele teme de maneira que ele sofre o fenômeno de habituação (acostumar-se com algo ou, na linguagem da TCC, diminuição automática e não intencional da intensidade da resposta frente a um estímulo). Essa técnica é muito utilizada em casos de fobias.

Outro ponto que compôs o processo terapêutico desse paciente foi auxiliá-lo a reorganizar sua vida e seu tempo. Para isso trabalhou-se com gerenciamento de tempo, o que requereu do paciente que ele monitorasse as atividades que atualmente desenvolvia através de uma planilha semanal. Além disso, foi investigado tudo o que estava pendente por algum motivo. Exemplos: dívidas, emagrecer, estudar, etc...

Com base nisso seus horários foram organizados de modo que ele tivesse a possibilidade de fazer o que precisava, mas também o que gostava, uma vez que diversos itens de lazer e da vida pessoal e social estavam sendo deixados de lado. Foram também traçadas metas (com datas para início e término) e feito um planejamento de quais os passos para atingi-las. Todas essas ações possibilitaram que ele se reorganizasse, fosse capaz de planejar como fazer para realizar seus objetivos e diante disso se sentisse mais no controle de sua vida e portanto menos preocupado com ela.

Em aproximadamente quatro meses, o quadro de pânico foi totalmente revertido, tendo o paciente já durante o processo diminuído a dosagem do medicamento e preparando-se para retirá-lo totalmente, agora sem o medo de fazê-lo e também de recaídas.

11 comentários:

  1. Bom dia a todos! Não é confirmado que o que quem possui síndrome do pânico tem um problema orgânico que altera os neurotransmissores. Essa alteração pode ser desencadeada por pensamentos, pois sim, basta ter um pensamento de medo para desencadear toda uma cascata neuroquimica que poderá ser fora de proporção ao evento. Muito cuidado ao considerar que a síndrome do pânico é uma doença crônica como o diabetes, por exemplo, é assim justificar o uso de medicação indefinidamente. É isso que a indústria farmacêutica espera que se acredit no DSM. Abraços em todos! Christiane

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    1. Christiane, a Karen disse da medicação em caso de necessidade, quem conhece o blog Sem Transtorno sabe muito bem que remédio é só com receita, isso parece ser mais um preconceito de que quem tem transtorno de ansiedade não pode tomar remédio. Orlando.

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  2. Oi Karen!

    Gostaria de parabenizá-la pelo trabalho!
    É extremamente reconfortante saber que não estamos sozinhos!
    Seu trabalho é muito honroso e ajuda diversas pessoas. Lindo mesmo!
    Começei a ter crises de pânico há mais ou menos 2 anos, desencadeada após um acidente grave com meu namorado hoje atualmente esposo, algo que se desenvolveu como após um estresse pós traumático.
    Sempre tive personalidade ansiosa, como médica sabia que estava em plena saúde e logo associei ao que sentia a um "problema psicológico". Mas foi com a leitura do seu blog que a ficha caiu para o que estava acontecendo. Ele fez clicar que eu não estava ficando maluca, que outras pessoas também passavam pelo mesmo que eu claro que de uma maneira individual. Infelizmente dentro da própria medicina há muito preconceito com os distúrbios psiquiátricos e esse foi meu maior entrave em aceitar o que acontecia. Tentei lutar contra isso sozinha. Felizmente quebrei meu próprio preconceito e procurei ajuda profissional. Ainda não estou 100% (menos de 1 mês de tratamento ainda) mas com muita esperança e seus posts ajudam muito!
    Parabéns!
    Saúde e felicidade à todos daqui!!!

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    1. Que maravilhoso receber sua mensagem. Vou publicá-la aqui no blog, você poderia me dizer de que cidade é?
      Muito obrigada, é um incentivo e tanto para continuar meu trabalho no Sem Transtorno. <3

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    2. Oi Desculpa! Não tinha conta google e esqueci de assinar. Meu nome é Marcelo a Magalhães e escrevo de Volta Redonda - RJ

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  3. Muito elucidativa a matéria! Adorei! Cada vez mais e mais me conheço! Minha síndrome do pânico iniciou justamente com uma promoção de trabalho, seguida de uma desilusão amorosa e uma mudança profissional para o exterior. Pra ajudar, meus hormônios desregularam completamente e comecei a engordar. Remédios para emagrecer agravaram o quadro. Por sorte, quando retornei ao Brasil, comecei a fazer terapia e foi onde tudo começou a se esclarecer e tomar o rumo de uma melhora. Parei com o anticoncepcional, que piorava a depressão, comecei com acupuntura para equilibrar as energias, passei em um Endocrino e descobri que minha tireoide estava completamente desregulada (hipotireoidismo) e pouco a pouco fui melhorando. As crises depressão melhorou e as crises diminuíram. Ainda assim, havia a auto-sabotagem profissional e amorosa, até que sofri um acidente, que me impossibilitou de andar por 2 meses. Tal acidente me obrigou a uma profunda reflexão, onde caminhei um pouquinho mais em direção à melhora do pânico. Somente após passar por inúmeras empresas e chegar ao cargo mais alto de uma multinacional, sem namorado, é que percebi que não podia fugir mais, tinha que me dar um cheque-mate e resolvi passar com um psiquiatra que me receitou remédios. Percebo que no meu caso são problemas orgânicos, mas tambem atrelados ao psicológico. As vezes está tudo as mil maravilhas e sem motivo algum começo a ficar triste, depressiva ou irritada. Isso é totalmente orgânico. Graças a Deus, estou há 1 ano e meio em tratamento com remédios e não tive mais crises de pânico. Já quis parar com o remédio, mas percebo que é orgânico e não psicológica minha disfunção, então conclui que é melhor me permitir ser feliz assim do que ficar sofrendo ou me julgando por tomar remédios. E se for pra vida, qual o problema? Nenhum! Viva o hoje!

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    1. Olá, MUITO OBRIGADA pela sua mensagem. Adoraria publicá-la aqui no blog, você poderia me dizer sua cidade?
      Parabéns por passar por tudo isso, pela sua força de vontade em buscar ajuda para melhorar. E viu só como melhora?!
      Nem sempre estaremos 100%, e ninguém estará, só precisamos de equilíbrio para lidarmos com os maus momentos, coisa que as crises de pânico e a depressão tiram de nós.
      Um grande abraço, saúde e coragem.

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  4. Olá! Meu post saiu fragmentado! Segue o correto, por favor excluir o anterior. Como já disse à própria Karen, o trabalho é fantástico. Coloco aqui o contraponto, saudável a qualquer discussão. Grande abraço em todos!
    Bom dia a todos! Não é confirmado que quem possui síndrome do pânico tem um problema orgânico que altera os neurotransmissores. Essa alteração pode ser desencadeada por pensamentos pois, sim, basta ter um pensamento de medo para desencadear toda uma cascata neuroquimica que poderá ser fora de proporção ao evento. Muito cuidado ao considerar que a síndrome do pânico é uma doença crônica como o diabetes, por exemplo, e assim justificar o uso de medicação indefinidamente. É isso que a indústria farmacêutica espera que se acredite. Os psicotrópicos são medicamentos recentes e seus efeitos a longo prazo estão sendo desvelados aos poucos, entre eles alterações cognitivas e de memória. Alguns casos podem realmente necessitar de uso prolongado, mas certamente não a panaceia da medicalização de sentimentos que tem ocorrido. Tenham coragem e busquem a fundo a real origem desse transtorno. Há um leque imenso de terapias ao dispor. Christiane.

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    1. Christiane, muito obrigada pelo comentário. É sempre bom termos esse tipo de discussão, ouvir outros pontos de vista. Do meu ponto de vista, levando em consideração o que dizem profissionais da área nos quais confio e minha própria experiência com o problema - já são 18 anos convivendo com o pânico e incontáveis com o TAG e a depressão -, acho que o pânico pode sim ser considerado um problema crônico. O medo da medicação psiquiátrica - da dependência, da irresponsabilidade de médicos que a prescrevem sem necessidade sob efeito de ganância inescrupulosa - e a necessidade de um prazo determinado para o fim do tratamento só agravam a ansiedade e a angústia. Como costumo dizer, não me preocupo mais se vou tomar remédio pelo resto da vida, e sim se terei uma vida com qualidade, prazerosa. E que bom que existem remédios pra isso. É claro que nem todos precisam de remédio, e também é claro que nem todos os médicos são idôneos, assim como nem todos os profissionais de qualquer área. Mas devemos confiar naqueles que estudaram e que têm aptidões suficientes para cuidarem da nossa saúde. Também acho que as terapias, como a TCC, são fundamentais nesse processo. Assim como atividade física, momentos de lazer, de ócio, de relaxamento... é um conjunto. E nesse conjunto, o remédio deveria ser considerado um dos protagonistas, e não o vilão. Beijos. (e saudades de você nas reuniões!)

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  5. Oi karen! Gosto muito do seu blog! Me ajuda bastante a entender um pouco do q acontece com meu marido... que há pouco tempo foi diagnosticado com transtorno de ansiedade, que segundo o psiquiatra poderia desenvolver para depressão. .. ele começou com a medicação (reconter e aprazolam)e o tratamento com o psicólogo.. As crises pararam quase q totalmente, ele basicamente tinha medo de q fosse morrer, taquicardia, dores diversas e sempre pensava o pior, tinha medo de fazer exercícios e até varrer a casa... Só q eu acho que ele virou um robozinho, come, trabalha, faz exercício, se alguém diz algo engraçado ele ri, se não fica na dele. .. Acho q agora ele não sente mais isso. .. Mas ora parece esta bem, ora parece estar entristecido. .. ele sempre foi meio calado com o mundo, mas comigo não era. .. e agora eu sinto q só eu acho q ele está estranho. .. que ele não está por completo. .. e não vejo ninguém falando sobre isso nos sites q vou. .. Estou sempre ao seu lado, tentando reorganizar nossa vida que antes era MT corrida e meio "desorganizada", fazendo algo legal para distrair um pouco a nossa mente.. Mas sinto q não estou com a pessoa com quem casei... o remédio é só para controlar a ansiedade, ou é possível q torne a pessoa mais fria?

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  6. Muito bom o post. Eu já tive crises de pânico e estou livre delas com terapia analítica e medicação. É muito bom, nestes momentos, ver que que não estamos sozinhos e que existe, sim, esperança de melhora!

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