quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
Estigma, preconceito e exclusão
O texto abaixo, prefácio do livro Não é coisa da sua cabeça, define meu objetivo com o projeto Sem Transtorno: "eliminar o estigma, a descriminação e a exclusão social e familiar que envolvem aqueles que sofrem de alguma doença mental".
Através da informação, procuro fazer minha parte a favor dessa mudança.
Coragem e saúde para todos nós!
"Parece difícil imaginar que pelo menos um em cada três de nós vai, em algum momento de sua vida, apresentar um tipo de transtorno mental. É verdade que fazem parte dessa cifra problemas como as fobias - o medo extremo e irracional de elevadores, multidões, viagens de avião, injeção, certos animais, altura e outras situações cotidianas -, que são bastante prevalentes na população, mas nem sempre causam grandes prejuízos para as pessoas. No entanto, a maior parte daqueles que sofrem de algum transtorno da mente vai ter sua vida profundamente afetada. Isso faz com que as doenças mentais constituam hoje uma das principais causas de incapacitação dos indivíduos, superando outros problemas de saúde comuns, como as doenças cardiovasculares e o câncer. E é provável que esse impacto se intensifique ainda mais, em alguns anos, pois à medida que ganhamos longevidade, os problemas médicos decorrentes das doenças crônicas - que incluem os transtornos mentais - tendem a ganhar proporções maiores.
Hoje já sabemos, por meio de pesquisas científicas no campo das neurociências - as diversas áreas de estudo dedicadas a entender o funcionamento do cérebro - e também de prática diária nos consultórios, que as doenças da mente começam a se desenvolver na infância, manifestam-se com mais clareza na juventude e, depois que surgem, tendem a se cronificar. Algumas melhoram com a idade, outras vivem altos e baixos, e há aquelas que evoluem progressivamente, limitando, pouco a pouco, a vida do indivíduo. Mas, apesar de todo o conhecimento que temos acumulado nas últimas décadas, ainda não conseguimos descobrir precisamente as causas de cada transtorno mental nem, consequentemente, como curá-los. Nossos tratamentos, embora sejam efetivos, na maior parte das vezes, para aliviar sofrimentos e permitir que as pessoas levem suas vidas com maior equilíbrio e fluidez, nem sempre são capazes de reverter a doença mental ou estancar seu desenvolvimento. E o que é ainda mais preocupante: esses tratamentos não são acessíveis à parcela mais pobre da população, particularmente em países desiguais como o nosso. (...)
Seguindo o exemplo do que ocorre em outras áreas da medicina, é necessário também avançarmos no campo da prevenção. Ou seja, criar metodologias que permitam identificar indivíduos em risco para o desenvolvimento de transtornos mentais e investir neles com intervenções eficazes, antes de a doença começar. Assim, teremos chances de impedir o surgimento desses problemas ou atenuar sua manifestação de forma significativa. (...)
Para isso, precisamos de transformações substanciais na nossa rede de atendimento à saúde, bem como de estratégias bem testadas de intervenção em larga escala. É necessário treinar e ampliar os nossos recursos humanos nessa área, capacitando profissionais de programas amplos, como o Saúde da Família, para diagnosticarem e tratarem adequadamente os problemas mentais mais comuns, como se faz com outras especialidades médicas.
Para pôr em prática qualquer uma dessas ações, vamos ter de investir em eliminar o estigma, a descriminação e a exclusão social e familiar que envolvem aqueles que sofrem de alguma doença mental. Acredito que esse processo comece com INFORMAÇÃO."
Euripedes Constantino Miguel - Professor titular e Chefe do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
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Olá, Karen.
ResponderExcluirSou nova no seu blog e nova na área "crises de pânico". Mudei meu jeito de ser (ainda não sei se pra melhor ou pior) depois da primeira crise. Não sou muito fã de remédios, então tento fazer "autos controles" durante o dia a dia... não é fácil. Só quando sei que não vai ter jeito de desviar da crise é que pego meu remedinho.
Estou escrevendo para agradecer seu trabalho.
Um grande abraço!
Olá, tudo bem? Também nunca fui adepta a remédios, pra falar a verdade até hoje não sou. Se depender de mim, não tomo nem vitamina C. rss Mas para conviver com o pânico, só encontrei sossego quando comecei a tomar meu remédio diariamente. Então hoje procuro nem pensar nisso. Simplesmente tomo e simplesmente consigo viver bem! ;) Obrigada pelo carinho.
ExcluirAbraços!