Há algumas semanas, uma representante da Editora Schoba entrou em contato comigo para oferecer um de seus últimos lançamentos. Achei muito chique isso e aceitei, claro, a gentileza!
O livro "A Garota Que Tinha Medo", de Breno Melo, conta a história de Marina, uma jovem universitária que sofre de síndrome do pânico.
Como quase todos nós, os chamados "panicosos", Marina teve uma primeira crise traumática e precisou passar por outros ataques aterrorizantes até descobrir que precisava de tratamento mental.
Situações bastante comuns para quem vive ou já viveu a doença, como o pavor nas primeiras crises e o frio afastamento do namorado preconceituoso, são contadas de maneira bastante esclarecedora. Aproxima, dessa forma, um leitor que pouco sabe sobre o assunto e ajuda a diminuir o preconceito.
Algumas referências históricas e religiosas podem ser um pouco cansativas, mas escolhi um desses momentos para compartilhar com vocês. Talvez por refletir uns dos meus mais inquietantes sentimentos.
"Péqui voltou sozinha, não havia conseguido ajuda e viu os momentos finais de meu desespero, quando os sintomas haviam diminuído a ponto de já não caracterizarem um ataque.
- Está melhor?
- Agora, sim. Mas e daqui a cinco minutos?
A verdade é que eu poderia ter outro ataque a qualquer momento. Alguns panicosos têm vários ao dia.
Lancei lágrimas sobre meu peito como o céu acima lançava pingos sobre o solo. Por que Deus não Se manifestava no meio dessa tempestade para falar comigo? Por que Ele ao menos não me dava uma satisfação? Eu me desmanchava em lágrimas e não sabia exatamente o motivo.
Mas chorar depois das crises era pouco, e eu voltava a chorar pelas crises que havia tido, pelas que poderiam vir e por tudo o que havia perdido devido a elas. (...) Me senti um lixo e tive raiva de Deus, que havia criado este lixo.
(...) Nunca mais fui a mesma depois do primeiro ataque, temendo as pessoas ou os lugares. Tinha medo de passar por outros ataques, que poderiam acontecer a qualquer momento.
Voltar aos lugares onde eu havia tido crises era praticamente impossível. Enfrentar multidões agora me metia medo! E ficar sozinha me deixava ansiosa, porque temia entrar em pânico sem que houvesse alguém de confiança por perto.
Por que eu tinha de sofrer gratuitamente como Jó? Minha raiva de Deus se redobrava, ainda que continuasse menor que meu desespero. Me lembrei das aulas de Filosofia; me lembrei de Hegel. Para ele, Deus não intervém neste mundo, que funciona sozinho. Milagres? Não há milagres. (...)
Refletindo sobre Deus, concluí que Ele era ausente e inativo demais para corresponder ao Ser onipresente e todo-poderoso da Bíblia. Deus não era como eu imaginava e me decepcionei. Eu poderia Lhe agradar ou ofendê-Lo, que Ele não moveria uma palha".
Adorei conhecer o seu blog. Tenho TAG e Escoriação Neurótica. é muito bom ter com quem compartilhar essas dores!!! Parabéns !!!
ResponderExcluirObrigada! :)
ExcluirFico feliz que tenha gostado do envio!
ResponderExcluirTambém acho muito enriquecedor que o livro tenha uma opinião de quem conhece as sensações de Marina.
Um abraço!
O livro é muito bom mesmo, Luciana. Obrigada pelo presente!
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