sexta-feira, 29 de outubro de 2021

‘Psicofobia’: os estigmas sobre saúde mental e medicamentos

De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde, em todo o mundo há mais de 1 bilhão de pessoas afetadas por transtornos psicológicos

Fonte: CNN Brasil 

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De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde, em todo o mundo há mais de 1 bilhão de pessoas afetadas por transtornos psicológicos.

O médico psiquiatra e psicoterapeuta, Guilherme Spadini, professor convidado de Psicologia Médica da medicina da USP, explica que o uso da palavra “transtorno” é indicado para doenças que não têm um mecanismo fisiopatológico claro, como é o caso dos transtornos mentais. 

Nem sempre as alterações físicas são as mesmas e, quando se trata de uma doença mental, vemos mudanças no comportamento e pensamento. 

Todas as pessoas podem, em algum momento da vida, desenvolver um transtorno psicológico. “As causas de transtornos mentais não são completamente conhecidas, existem predisposições genéticas, mas tem também importância o psicossocial, interações com o meio, com a cultura, com o que vive no dia a dia”.

Exposição a diversas violências e traumas, assim como má qualidade de vida, sem momentos de lazer e com estresse contínuo podem ser propulsores para um quadro de distúrbio psíquico. “Pode variar também de transtorno mental para transtorno mental. Esquizofrenia pode ter um fator biológico maior que a depressão, por exemplo” completa Spadini.

Psicofobia

O preconceito em relação a pessoas que sofrem de transtornos mentais é conhecido como Psicofobia. O termo não é usado na própria psiquiatria, mas tem um valor social para falar e ser inclusivo sobre o assunto. Spadini destaca que existe, em torno dos pacientes psiquiátricos, “aura de imprevisibilidade, de que a pessoa é fraca”.

Esse conjunto de ideias negativas pode limitar os pacientes, como, por exemplo, fazer com que alguém com histórico de transtorno mental seja preterido em um emprego.

Segundo o médico, o principal motivo para o estigma é a falta de conhecimento. Não saber traz esse estranhamento e as pessoas tendem a evitar o que não conhecem. O principal antídoto para o combate da psicofobia é popularizar informações sobre transtornos mentais.

Por vezes, o estigma vem de dentro de casa. Pais costumam ter dificuldade de aceitar que um filho seja paciente psicológico. Spadini trabalha com jovens e  estudantes universitários e conta que é recorrente que eles queiram esconder o tratamento dos pais.

“É uma má notícia para os pais, como se tivesse algo de errado. É difícil lidar com o fato de que seu filho possa estar em sofrimento. A gente vive em um mundo em que precisamos estar felizes o tempo todo e demonstrar essa felicidade. Não é fácil aceitar o quanto da vida é sofrimento, e para os pais muitas vezes isso se traduz como culpa.

O médico lembra que, no passado, ter um transtorno mental era algo “escondido” e que se evitava falar a respeito, principalmente em ambientes de trabalho. As gerações mais recentes de pais e jovens tendem a aceitar melhor os transtornos mentais. Hoje existe uma popularização de ir e comentar sobre a famosa ‘terapia’.

O acompanhamento psicológico com psicoterapia pode ser feito sem diagnóstico de transtorno, apenas para melhorar a qualidade de vida. Conversar sobre os pensamentos e ter com quem falar é hoje muito mais aceito.

Medicamentos

O estigma da psicoterapia pode até ter ficado para trás, mas sobre o tratamento psiquiátrico com medicamentos ainda tem muito o que se desconstruir.  “Todos os médicos eram consultados e o último médico a ser encaminhado era o psiquiatra”.

“É como se fosse um exagero o uso de medicamento, algo psicologicamente ruim, que fosse tirar a realidade do paciente, tirar a limpeza. Usar medicamentos parece fraqueza”, comenta Spadini. 

Por esse medo e amedrontadas pelo estigma, pessoas com transtornos mentais deixam de procurar a ajuda que precisam. Sem o tratamento adequado, pessoas com transtorno passam décadas sofrendo de sintomas intermediários e perdem o funcionamento total da vida. Esses sintomas, a longo prazo, interferem na carreira, casamento, saúde física e em outros aspectos pessoais. 

As pessoas ao redor do paciente podem até ter uma preocupação genuína sobre o uso contínuo de medicamentos, como receio de dependência. 

Segundo o psiquiatra, um tratamento com medicamentos não tem a função de cura ou de corrigir algo errado. Ele tem um efeito benéfico, diminui o sofrimento e aumenta a chance de recuperação. 

Efeitos colaterais graves podem ser prevenidos com o acompanhamento de um bom profissional que vai observar os efeitos e reações no paciente.

“Deve ser feito com cuidado e atenção e parar assim que possível. O problema são as pessoas que não querem tomar de jeito nenhum ou acham que precisam tomar para ficar tudo maravilhoso”, indica Spadini.

O casamento entre psicoterapia e medicação é o mais indicado para distúrbios psíquicos. Também é essencial que haja mudanças no estilo de vida, como e prática de esportes, boa alimentação e sono reparador e ter uma satisfação nos relacionamentos.

“Não é só uma questão de tomar remédio. Ele diminui mais rápido a gravidade dos sintomas e impede consequências nocivas para o paciente. Mas psicoterapia e melhora na qualidade de vida ajudam também”

Campanha 

A Associação Brasileira de Psiquiatra, desde 2011, faz campanhas para conscientizar sobre o estigma em torno da saúde mental, chamado pela ABP de Psicofobia. De acordo com o site oficial, 12 de abril é o Dia Nacional de Enfrentamento à Psicofobia.

O termo ‘psicofobia’ foi criado após o ator Chico Anysio alertar para a falta de um nome para descrever o preconceito.


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